As boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) vem ganhando espaço nos grandes frigoríficos brasileiros. Ao fixarem metas e assumirem compromissos alinhados, entre outros, com a redução de emissões de carbono, mitigação de impactos e transparência, as companhias tornam-se mais competitivas nos mercados externos e interno e mais atrativas para os investidores.
A partir da revisão de processos e produtos em busca de conformidade com os parâmetros ESG, surgem para os consumidores opções como a marca Viva, linha de carnes com atributos de sustentabilidade lançada pela Marfrig e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no segundo semestre do ano passado. O produto tem a certificação carne carbono neutro (CCN), desenvolvida pela Embrapa, que atesta que o gado foi criado em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta, ILPF), que ajudam a neutralizar as emissões de gases de efeito-estufa.
“Desde 2009 temos controle de origem dos animais, assinamos compromisso para termos cadeia livre de desmatamento e somos pioneiros no sistema de geomonitoramento diário para assegurar que o animal não é proveniente de áreas desmatadas, indígenas e de unidades de conservação, nem de trabalho escravo e áreas embargadas pelo Ibama”, afirma Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig. O rastreamento é realizado em área equivalente a 30 milhões de hectares.
O frigorífico também investe no controle de emissões de carbono de suas próprias atividades e ainda daquelas relacionadas a seus produtores, estimulando a adoção, por parte deles, de sistema de produção integrado pecuária-lavoura.
A empresa tem metas de redução de emissão de gases de efeito-estufa, de 43% em suas operações diretas e de 35% nas emissões de toda sua cadeia de suprimento, para o período de 2019 a 2035. Também investe em produção carbono neutro. “Somos um dos maiores produtores de carne orgânica da América do Sul e provavelmente do mundo. O mercado principal é o dos Estados Unidos”, diz Miguel Gularte, CEO da Marfrig para América Latina.
O frigorífico Friboi, do grupo JBS, habilitado para exportar para mais de 140 países, também realiza monitoramento diário por satélite de seus fornecedores: são mais de 60 mil fazendas na Amazônia, em cerca de 45 milhões de hectares. “Isso é bem reconhecido pelo mercado, é o maior do mundo”, afirma Renato Costa, presidente da empresa.
Neste ano, o Friboi deu um passo adiante na produção sustentável com o lançamento da plataforma da pecuária transparente, que permite identificar todo o percurso do animal, desde o início de sua vida até o frigorífico. “Monitoramos o fornecedor do nosso fornecedor. O mercado cobra isso. É inovador”, afirma Costa.
Apesar dos avanços, reduzir emissões de gases de efeito-estufa ainda é um desafio para a agropecuária, principal fonte emissora em 66% dos municípios brasileiros. Mesmo com a ampliação de práticas sustentáveis, os resultados ainda estão longe do ideal. Houve alta de 17% na produtividade entre 1997 e 2019, mas as emissões cresceram 41,3%, fruto do aumento do rebanho. “Há adoção de práticas de baixo de carbono, mas não são suficientes para acompanhar o crescimento da produção”, avalia Renata Potenza, do Imalfora, Instituto especializado em economias de baixo carbono.
Fonte: Suinocultura Industrial