Impulsionado pelos segmentos agropecuário, de crédito e de saúde, o faturamento das 217 cooperativas paranaenses cresceu 31,8% em 2020, para o recorde de R$ 115,7 bilhões, e ajudou o Estado a enfrentar o primeiro impacto da covid-19 sobre a economia local. A receita foi quase o dobro dos R$ 60,3 bilhões de 2015, em valores nominais, e para 2021 o setor estima alta de 10% a 12%, para quase R$ 130 bilhões, apesar dos limites à retomada da economia impostos pelo ritmo lento da vacinação contra a pandemia em todo o país.
Os dados são da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), que indica ainda uma expansão de 57,3% no lucro de todo o setor - as chamadas “sobras” - em 2020 frente ao ano anterior, para R$ 5,95 bilhões.
Somente as 59 cooperativas agropecuárias do Paraná faturaram R$ 100,1 bilhões no ano passado, 37,8% a mais do que em 2019, e ampliaram em 62,5% o resultado líquido, para R$ 4,21 bilhões. O desempenho deveu-se à safra cheia, à forte demanda internacional pelas commodities agrícolas, sobretudo por parte da China, à alta nos preços das carnes, ao dólar valorizado e ao consumo doméstico favorecido pelo auxílio emergencial à população de baixa renda.
“Foi um ano de conjugação de fatores que dificilmente se repetem”, avalia o superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti. Em 2021 as premissas não são tão favoráveis, mas ainda assim ele projeta um crescimento também entre 10% e 12% no faturamento do ramo agropecuário.
Embora neste ano as cotações dos grãos sigam em alta e o câmbio, valorizado, a falta de chuva no verão e as geadas no inverno devem reduzir a produção agrícola do Estado em 6%, para 38,6 milhões de toneladas. Nas culturas de verão (soja e milho, principalmente), a queda deve ser de 9,6%, para 33,5 milhões de toneladas, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura do Estado.
Para 2025, a Ocepar mantém a projeção de R$ 200 bilhões em faturamento para todo o setor cooperativista. A previsão inclui os segmentos de crédito, que somava 56 organizações ativas e receita de R$ 7,8 bilhões no ano passado, com alta de 2% sobre 2019, e de saúde, com 37 operações e receitas de R$ 7 bilhões em 2020, ou 6,7% a mais do que no ano anterior. Além dessas, operam no Estado 65 cooperativas de transporte, infraestrutura, trabalho e consumo.
Segundo Mafioletti, os investimentos planejados pelas cooperativas são o principal vetor de expansão do setor nos próximos anos. Em 2020, somaram R$ 3,5 bilhões, 61% a mais do que em 2019, e devem chegar perto de R$ 4 bilhões em 2021. Para o acumulado de 2021 a 2025, o valor pode alcançar cerca de R$ 23 bilhões em todos os segmentos, estima o executivo.
Outro fator de crescimento é a extensão da base de cooperados em Estados próximos como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás, além do Paraguai, num movimento que se iniciou há duas décadas e se acentuou nos últimos anos. Segundo a Ocepar, o volume de associados em todos os ramos do setor somou quase 2,5 milhões em 2020, 15% acima de 2019, enquanto o número de funcionários aumentou 9,8%, para 117,9 mil pessoas.
As exportações também contribuem. De 2019 para 2020 os embarques de produtos agroindustriais avançaram de US$ 3,9 bilhões para quase US$ 4,5 bilhões e, convertidos pelo câmbio médio de cada ano, corresponderam a R$ 15,4 bilhões e a R$ 23,2 bilhões, respectivamente, em valores nominais. Para 2021 a previsão de Mafioletti é de alta de 10% em dólar, o que pelo câmbio médio até 31 de maio daria um total de R$ 27 bilhões no acumulado do ano.
Para o secretário da Agricultura do Estado, Norberto Ortigara, as cooperativas são essenciais para a economia paranaense pelo papel que cumprem na produção e na geração de emprego e renda. Na opinião dele, o futuro é “altamente promissor” para o setor, especialmente no ramo agropecuário depois que o Paraná obteve, em maio, status de zona livre de aftosa sem vacinação e poderá ter acesso a mercados que pagam mais, como Japão, Coreia do Sul e México.
Entre as cooperativas de crédito, o crescimento deve-se ao foco no associado e ao fato de que, em geral, elas cobram tarifas inferiores às dos bancos comerciais ao mesmo tempo em que dispõem de todo o portfólio de produtos e serviços financeiros e apoiam o desenvolvimento das regiões onde atuam, entende o diretor executivo da Sicredi Campos Gerais, Márcio Zwierewicz. No ano passado o segmento apurou resultado líquido de R$ 1,17 bilhão, com alta de 23,1% sobre 2019.
Conforme a Ocepar, as cooperativas de crédito paranaenses encerraram 2020 com 2,25 milhões de associados, 14,6% acima do ano anterior e o equivalente a 90,7% dos cooperados de todos os segmentos, além de operações em praticamente todos os 399 municípios do Paraná. Com forte ligação com o setor agroindustrial, elas foram responsáveis pela liberação de 26,9% do crédito rural concedido no Plano Safra 2019-2020 no Estado, ante à média de 18,2% em todo o país.
Com sede em Ponta Grossa, a Sicredi Campos Gerais tem 33 agências em 14 municípios do Paraná e do sul de São Paulo. Até o fim de 2022, no entanto, serão inaugurados mais sete pontos de atendimento em pelo menos duas novas cidades: Campina Grande do Sul (PR) e Peruíbe (SP). “Os bancos reduzem o número de agência e nós, aumentamos”, diz Zwierewicz.
Segundo o executivo, a cooperativa pretende chegar a 93 mil associados em dezembro. A estimativa é que o volume de recursos administrados alcance R$ 4,5 bilhões, contra R$ 3,27 bilhões em 2020, e a carteira de crédito evolua de R$ 2,12 bilhões para R$ 3 bilhões no mesmo período.
Fonte: Avicultura Industrial